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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

KASSAB CULPA A CHUVA. UMA SAÍDA USADA HÁ 24 ANOS





Esse sempre foi o argumento dos prefeitos nos últimos 24 anos. No entanto, meteorologia mostra que temporais não fogem à regra

Rodrigo Burgarelli, Bruno Ribeiro e Paulo Saldaña – O Estado de S.Paulo

Em São Paulo chove e chuva provoca enchente. A explicação tem sido repetida pelos prefeitos da cidade há 24 anos. E foi repetida ontem por Gilberto Kassab (DEM). “Cada vez mais chove mais.” Desde 2006, quando assumiu a Prefeitura, o discurso do prefeito é de que a cidade está preparada para enfrentar as chuvas ou que a daquele momento superou a expectativa. Ontem, não foi diferente. “Já tivemos um volume de chuva correspondente a 93% da média de janeiro dos últimos anos, o que mostra sua intensidade”, disse.

Dados meteorológicos históricos, no entanto, mostram que tempestades assim, com mais de 20 mm de chuvas por horas, são típicas de janeiro e ocorrem em todos os verões. É o que se observa nos registros no meses de janeiro dos últimos 10 anos. Nesse período, houve temporais dessa magnitude em 59 dias de janeiro – e, como prova de que a chuva não é distribuída igualmente por todo o mês, em 126 dias de janeiros da última década não choveu nenhuma gota em São Paulo.

A própria média histórica de precipitação esperada para o mês, de 239 mm, já foi superada várias vezes na última década, quando oito em dez verões tiveram mais chuva que o esperado. O valor esperado para o mês é baseado em dados pluviométricos colhidos na cidade entre 1961 e 1990, mas, mesmo assim, autoridades não revisaram as diretrizes para o combate das tempestades. A chuva entre a noite de anteontem e a manhã de ontem representou 68,8 mm. Neste mês, a cidade já registrou 221,2 mm de chuva.

Ao ser questionado ontem se a capital está de fato preparada para os temporais, Kassab não respondeu. Disse apenas: “A chuva que acontece na cidade de São Paulo tem alguns pontos de alagamento com mais intensidade e outros com menor intensidade.” O posicionamento difere do adotado por ele em 2010: “A cidade está mais bem preparada para as enchentes.” Sobre o mapeamento de áreas de risco, prometido para junho de 2010, o prefeito negou que o estudo fosse ser utilizado neste verão.

Alagados. Locais simbólicos, que todo verão acabam afetados pela chuva, também voltaram a sofrer com alagamentos ontem. Pelo menos sete ruas da Vila Itaim, bairro vizinho do Jardim Romano, em São Miguel Paulista, zona leste, ficaram debaixo d”água. Algumas delas, inclusive, já estavam alagadas desde sábado, mas sem que a água invadisse as casas – o que ocorreu ontem, destruindo móveis, danificando carros e forçando as famílias a retirarem de casa o que podiam.

Ruas como a Capachós, do Jardim Romano, que ficou submersa por várias semanas no verão passado, não encheram. Moradores da Vila Itaim, porém, reclamam que as obras da Prefeitura e do governo estadual no Rio Tietê (um dique e um piscinão) privilegiaram algumas, esquecendo do restante da região.

No bairro, o nível da água chegou a quase um metro de altura e não poupou nenhum cômodo da casa da aposentada Olinda Auxiliadora, de 70. Depois de “perder tudo” em 2009 na enchente do Jardim Romano, mudou-se para o bairro para fugir das enchentes e viu a história se repetir. “Só a TV ficou em cima da estante. Sofá, móveis e geladeira com comida ficou tudo debaixo d”água.”

Ontem à tarde, a Defesa Civil instalou uma base móvel para atender a população do bairro. A Prefeitura informou ter constatado uma rua com “pequenas laminas d”água” no sábado. Segundo nota, o sistema de drenagem de bueiros e galerias da região estaria ligado diretamente ao Rio Tietê, o que ocasionaria um “refluxo da água”.


As reações do prefeito
GILBERTO KASSAB

18 DE SETEMBRO DE 2006
“Foi a Lei de Murphy (alagar o Túnel do Anhangabaú)”

8 DE FEVEREIRO DE 2007
“Eu sempre digo que chover é muito bom. E nos últimos meses as chuvas têm mostrado que a Prefeitura está preparada para receber as enchentes”

22 DE FEVEREIRO DE 2008
“Se as administrações anteriores tivessem investido o volume de recursos que nós temos investido, a cidade estaria em uma situação bem mais favorável”

22 DE DEZEMBRO DE 2008
“São Paulo pode esperar uma presença firme da Prefeitura para evitar transtornos”

8 DE SETEMBRO DE 2009
“A Prefeitura está preparada de acordo com a dimensão dos investimentos na cidade nos últimos 50 anos”

9 DE DEZEMBRO DE 2009
“O que tivemos foi uma chuva intensa, localizada, e o transbordamento do Rio Tietê”

21 DE JANEIRO DE 2010
“O que mais uma vez causou esses pontos de alagamento não foi apenas o excesso de chuva, mas também o crescimento desordenado”

5 DE JANEIRO DE 2011
“O que aconteceu ontem foi chuva, foi água”

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