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terça-feira, 31 de agosto de 2010

DUAS FRENTES DE GUERRA DO PT

Muito interessante esta matéria publicada no jornal "Valor Econômico" sobre a ofensiva do PT e o engajamento do presidente Lula e da candidata Dilma em São Paulo na busca do segundo turno contra o PSDB em São Paulo

Política
Autor(es): Raymundo Costa
Valor Econômico - 31/08/2010

Dilma fará mais cinco comícios em São Paulo para alavancar Mercadante e prender Serra ao Estado

Com duas dezenas de pontos à frente, segundo as últimas pesquisas eleitorais, a candidata do PT, Dilma Rousseff, vai selecionar mais suas próximas atividades, endurecer o jogo com os tucanos em relação às acusações sobre o envolvimento de sua campanha na quebra de sigilos fiscais e desencadear uma ofensiva sobre São Paulo, ao lado de Lula, com o objetivo de tentar levar o senador Aloizio Mercadante ao segundo turno da eleição para o governo do Estado.

Para as próximas semanas, já estão previstos cinco comícios de Dilma em São Paulo. Além de alavancar Mercadante, a campanha da petista quer manter José Serra preso em São Paulo defendendo os pontos que ainda detém no Estado do qual o tucano esperava sair com uma vantagem entre quatro e seis milhões de votos (Geraldo Alckmin teve 3,9 milhões de votos a mais que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nas eleições de 2006).

Lula farejou a possibilidade, ainda remota, é verdade, de sitiar, invadir e conquistar a maior e mais importante cidadela tucana. Mas para isso é fundamental, em primeiro lugar, que a eleição vá para o segundo turno. Um passo de cada vez, como dizem dirigentes petistas.

Trata-se de uma empreitada difícil porque o tucano Geraldo Alckmin se mantém estável na liderança das pesquisas, apesar do tucano José Serra ter sido ultrapassado por Dilma Rousseff no Estado que governou nos últimos dois anos e meio - Dilma saiu de 34% para 41% em uma semana, enquanto o tucano caiu dos mesmos 41% para 36% das intenções de votos apuradas pelo instituto Datafolha. Na capital paulista, José Serra ainda está (35%) pouco menor.

Alckmin, no entanto, manteve-se com os 54% da pesquisa anterior. Além disso, o crescimento de Aloizio Mercadante, que andava estacionado nos 16% e saltou para 20%, se deu mais a custa do terceiro colocado, Celso Russomano, que na conquista de eleitores que declaram intenção de votar no candidato do PSDB ao governo do Estado.

São cerca de 20 os pontos que os três adversários do candidato do PSDB precisam somar para impedir a vitória de Alckmin em 3 de outubro e assegurar a realização do segundo turno. É muito, mas há precedentes no país de grandes viradas - uma delas está ocorrendo agora em Minas Gerais - e a implosão da candidatura José Serra deixa Lula, Dilma e o PT a cada dia mais atrevidos e confiantes.

Nos cálculos petistas, a campanha do PSDB faz água por todos os lados. A avaliação da própria campanha do tucano reconheceu a condição de estadista do presidente. Serra foi abandonado pelos candidatos aliados nos Estados, enquanto Dilma, por seu turno, consolida posição em todas as regiões do país. São Paulo seria um prêmio certamente inesperado para uma campanha organizada e bem resolvida politicamente, como é a de Dilma (pelo para a eleição, pois governar com a salada partidária que apoia a candidata é outra equação a ser costurada com esmero e determinação).

A empreitada é difícil, mas não considerada impossível pelo PT: o partido tem tradição de crescimento na reta final de eleições, e Mercadante ainda está distante da média histórica de voto do PT no Estado, em torno dos 30%. O que não basta para impedir o retorno abreviado de Alckmin ao Palácio dos Bandeirantes. É preciso também que Celso Russomano (PP) e Paulo Skaf (PSB), pelo menos, também avancem alguns pontos na intenção de voto do eleitorado paulista para que o projeto governista tenha êxito. Os dois estão mais que dispostos a colaborar com os planos oficiais.

Mercadante entrou na disputa a pedido de Lula. Ele e a maioria dos petistas consideravam mais segura a candidatura do senador à reeleição. Houve até quem visse na indicação de Lula um troco do presidente às vacilações de Mercadante em momentos difíceis do governo. O fato agora é que Lula vê uma oportunidade em São Paulo que de fato não estava no horizonte do PT até a candidatura de José Serra dar sinais de que está em colapso. Algumas pesquisas qualitativas já registram um certo cansaço com a onipresença lulista na campanha, o que não basta para tirar o otimismo do PT numa vitória de Dilma no primeiro turno.

O esforço em São Paulo é parte da agenda mais seletiva que Dilma, após abrir ampla vantagem, pretende cumprir a partir de agora. A candidata, por exemplo, não deve falar mais da quebra de sigilo de tucanos e de pessoas ligadas ao PSDB por funcionários da Receita Federal. E o PT ir ao ataque com uma saraivada de ações contra Serra e outros que relacionarem a invasão dos sistemas da Receita à campanha de Dilma. A candidata deve ser resguardada mais ainda do que já está sendo pelo PT.

Dito isto, o que o PT espera de Mercadante agora é levar a disputa eleitoral para o segundo turno. Com Dilma eleita em 3 de outubro e um presidente que fez o sucessor com facilidade a tiracolo, Mercadante estaria em condições de reescrever o capítulo que se antecipava para a eleição do governador do maior Estado da federação. A conferir.

Está acertado: Antonio Palocci volta para o governo, na hipótese de Dilma Rousseff confirmar o favoritismo apontado pelas pesquisas na eleição de 3 de outubro. O que ninguém sabe ainda é por onde volta o ex-todo-poderoso ministro da Fazenda do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. O projeto dele, de seus aliados e boa parte do governo é a Casa Civil da Presidência da República. Mas é real a possibilidade de que Palocci volte por outra Pasta - a Saúde é a mais citada -, antes do pouso definitivo na Casa Civil.

Outro ex-todo-poderoso do primeiro mandato, José Dirceu, tem participado da campanha de Dilma e é chamado com frequência para participar de reuniões ou desatar nós políticos. Dirceu conta sobretudo com o apoio da militância do PT, da qual não perde contato. Mas por causa do processo do mensalão, ele não tem assento institucional na campanha de Dilma. Por ter se livrado do processo sobre a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, Palocci foi indicado por Lula para a campanha e ganhou musculatura com o andamento da campanha. Nas palavras de um petista próximo a Lula, ele "não será o ministro que imagina que será, nem o ministro que os seus detratores querem que ele seja".