Blog do Diretório Zonal da Freguesia do Ó e Brasilândia do Partido dos Trabalhadores na Cidade de São Paulo - SP

domingo, 21 de março de 2010

NOVA OPORTUNIDADE PARA A AMÉRICA LATINA


ANTÔNIO PALOCCI – O GLOBO

Num momento em que a recuperação da economia mundial se dá de maneira bastante diferenciada entre os países e nos diferentes continentes, a observação da rápida superação da crise e da retomada do crescimento em muitos dos países da América Latina mostra uma oportunidade nova para o desenvolvimento e a tão acalentada integração da região.

A maior capacidade de resistir à crise mostrada recentemente, se comparada com o impacto de crises anteriores, não se deu por acaso.

Os dados agregados da região para os cinco últimos anos antes da crise mostram, embora de maneira desigual entre os países, melhoras significativas nas contas externas, na acumulação de reservas internacionais, nos resultados fiscais, no crédito e no desenvolvimento de mercados internos mais dinâmicos.

No ano de 2007, o Brasil tinha reservas 273% maiores que sua dívida pública externa. O Chile, 468%; o México, 129%; a Colômbia, 89%; e o Peru, 141%. O volume de crédito aumentou neste período para quase todos os países e com menor dependência do crédito externo. A redução dos déficits fiscais também aconteceu na grande maioria das contas públicas da região.

Por isso, o impacto da crise, embora reconhecida como a maior das últimas décadas, foi menor do que o impacto em crises anteriores e de menor gravidade. As reservas e a situação das contas externas, o controle da inflação e a melhora fiscal permitiram uma importante atenuação dos impactos negativos da crise recente.

Sem dúvida, o Brasil foi o país que melhor demonstrou capacidade renovada de enfrentar situação tão adversa, podendo lançar mão de estímulos monetários, fiscais e tributários que, combinados com um mercado interno bastante amplificado, permitiu uma saída rápida do quadro de constrangimento econômico do final de 2008 e início de 2009.

Mas o fato digno de nota é que muitos outros países latinoamericanos tiveram também bom desempenho no período, sempre comparando com a situação de crises anteriores.

Agora, o fato que persiste é que as economias mais ricas, em especial os EUA, União Europeia e Japão, continuam num processo bastante lento de recuperação. São as chamadas economias emergentes que dão maior alento ao cenário global.

Para a nossa região, isso deve significar uma avaliação criteriosa das dificuldades dos próximos anos, mas também das oportunidades abertas. Se é verdade que a economia americana, que é destino de nada menos do que 41,4% das exportações da AL, deve mostrar uma recuperação arrastada e difícil, é verdade também que a troca comercial, no período anterior à crise, cresceu fortemente entre os países da parte latina do hemisfério.

Não se trata, nem de longe, de ver algo de positivo na crise da economia americana. Como consumidor, nos anos mais recentes, de quase 30% da produção mundial, a retração do consumo dos EUA imporá restrições severas para todas as economias do mundo. Mas é preciso olhar para as novas economias, as novas oportunidades e os novos mercados. E é ai que reside uma nova oportunidade de integração da América Latina.

Valorizar as boas práticas de gestão das contas públicas, as políticas de acumulação de reservas, a integração das boas experiências no campo macroeconômico, é um começo. Desenvolver políticas de fomento dos mercados internos, e geradoras de emprego e renda, também é necessário. E seriam complementares a um ambicioso projeto de ampliação da infraestrutura da região, capacitando-nos a uma integração mais vantajosa com as economias de outros continentes.

É incrível que, até hoje, tenhamos conseguido dar apenas os primeiros passos para ligações eficientes de transporte entre o Atlântico e o Pacífico, facilitando o acesso aos promissores mercados asiáticos.

Nunca é tarde para recuperar o tempo perdido se as oportunidades voltam a se colocar

ANTÔNIO PALOCCI é deputado federal (PT-SP) e foi ministro da Fazenda.

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