Tucano ameaçou deixar estúdio após ser questionado sobre pesquisas e quebra de sigilo
BRENO COSTA E CATIA SEABRA – FOLHA SP
DE SÃO PAULO
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, se irritou durante entrevista ao programa “Jogo do Poder”, da CNT, chamou o programa de “montado” e ameaçou abandonar os estúdios da emissora antes do fim da gravação, ontem, em São Paulo.
O tucano não gostou das perguntas feitas pelos jornalistas Márcia Peltier e Alon Feuerwerker sobre pesquisas de opinião e o suposto uso eleitoral do caso das quebras de sigilos fiscais de tucanos.
A entrevista, agendada pelo candidato à 1h50 de ontem e gravada no início da tarde, tinha exibição prevista para ontem à noite. Ela faz parte de uma série de entrevistas com os candidatos à Presidência. Na semana que vem está prevista a participação de Dilma Rousseff (PT).
O primeiro sinal de irritação apareceu com três minutos de entrevista, depois de ser questionado se ainda era possível “virar” a corrida presidencial, já que Dilma, segundo pesquisas de opinião, venceria no primeiro turno, se as eleições fossem hoje.
“Se a gente for gastar esse tempo todo discutindo pesquisa, não vai levar muito longe”, disse o tucano.
Dois minutos depois, quando Peltier perguntou a Serra se o eleitorado estava entendendo a gravidade do caso das quebras de sigilo fiscal na Receita, ele voltou a mostrar contrariedade.
“Sabe o que eu preferia? Que a gente falasse um pouco do que quer se fazer pelo Brasil”, afirmou o candidato.
No fim do primeiro bloco, mas com câmeras e áudio ainda ligados, Serra passou a discutir com a apresentadora, sem elevar a voz.
Dizendo-se sufocado, ele chegou a tirar o microfone de lapela a pretexto de buscar uma Coca-Cola sem gelo fora do estúdio.
“Nós estamos gastando um tempo aqui, precioso, em vez de falar de programa de governo para vocês repetirem os argumentos do PT, que vocês sabem que são fajutos”, afirmou.
O tucano argumentava que havia combinado previamente com a emissora que a entrevista seria restrita à discussão de propostas de governo. Peltier disse que esses temas seriam abordados nos três blocos seguintes. O candidato não concordou.
“Não vou dar essa entrevista, você me desculpa. Faz de conta que não vim”, disse, emendando que a entrevista não era um “troço sério”.
Em seguida, pediu que os equipamentos fossem desligados. “Isso aqui está um programa montado”, disse.
“Montado para quem? Aqui não tem isso”, respondeu Márcia Peltier.
INTERVENÇÃO
O diretor de jornalismo da emissora, Domingos Trevisan, foi obrigado a intervir e entrar no estúdio. A afirmação de que o programa de governo seria abordado nos blocos seguintes foi reforçada, e o tucano concordou em prosseguir a gravação.
Serra -que chegou à emissora reclamando de mal-estar- tirou fotos ao lado de Peltier ao fim da entrevista. Como a maior parte da discussão foi travada durante o intervalo, apenas parte dela seria levada ao ar.
Depois de editado, o material bruto, com imagens e áudio da discussão, foi entregue à assessoria de Serra, a pedido da campanha.
O objetivo, segundo a assessoria da emissora, era evitar vazamento do material. A assessoria de Serra afirma que levou a fita para fazer a transcrição da entrevista e que imaginou que a emissora tinha ficado com uma cópia.
Serra tem mostrado irritação durante a campanha com perguntas de jornalistas, na maioria dos casos quando abordam pesquisas de opinião.
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