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sexta-feira, 19 de novembro de 2010
MINISTÉRIO - DILMA CONFIRMA MANTEGA NA FAZENDA
Matéria do Jornal Valor Econômico sobre o convite aceito pelo Ministro da Fazenda Guido Mantega para permanecer no governo da presidente eleita Dilma
Autor(es): Raymundo Costa, Ribamar Oliveira e Rosângela Bittar
Valor Econômico - 19/11/2010
A presidente eleita, Dilma Rousseff, formalizou, ontem, convite ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, para permanecer chefiando a principal pasta da área econômica do governo. A presidência do Banco Central permaneceu indefinida até a noite de ontem mas estavam bem cotados o atual diretor de Normas, Alexandre Tombini, e o presidente da Febraban e presidente do Santander Brasil, Fábio Colletti Barbosa.
Barbosa foi um dos primeiros a serem convidados pelo presidente Lula para o Banco Central, no seu primeiro mandato, mas recusou o posto à época. Volta agora ao topo das considerações da presidente eleita.
A permanência do atual presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, foi também recomendada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sucessora, junto com Mantega, e pairou sobre toda a negociação para a formação da equipe econômica do governo Dilma. Só foi afastada à noitinha, mas Meirelles pode ter algum outro cargo no governo.
"A tendência é o Meirelles não permanecer", disse ao Valor um interlocutor de Dilma e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O argumento é que o governo da presidente eleita ficaria com "cara de velho" se ela mantivesse Meirelles, Celso Amorim (Relações Exteriores), Luiz Dulci (Secretaria-Geral), general Jorge Felix (Segurança Institucional), pois todos começaram há oito anos com Lula. A exceção à regra é Mantega, que também entrou há oito anos como ministro do Planejamento. "Isso não é julgamento de competência", disse a mesma fonte.
A formalização do convite a Mantega ocorreu durante uma reunião de duas horas do ministro com a presidente eleita, na qual os dois discutiram a política econômica, na Granja do Torto, onde Dilma está morando no período de transição. Mas o fato é que Mantega viajou a Seul, para a reunião do G20, na semana passada, já na condição de ministro da Fazenda do futuro governo, sabendo que ia permanecer a pedido do presidente Lula.
Entre os argumentos que usou para manter Mantega, Lula disse que não era boa a ideia de "mudanças" na economia. Com Dilma, o presidente argumentou que Mantega e Meirelles deveriam ficar por causa do ciclo de dificuldades internacionais que parece ter se iniciado novamente. O presidente citou a crise da Europa, a guerra cambial, a questão da China, enfim, o clima de instabilidade, antes de perguntar: não seria o caso de deixá-los aí? Dilma, que sempre programou ter Luciano Coutinho no Ministério da Fazenda, não teve como recusar o conselho quanto a Mantega. O mesmo raciocínio valeria para a permanência de Meirelles, mas a presidente eleita avaliou que no caso poderia haver uma troca sem problemas para a continuidade.
Ao aceitar a sugestão de Lula para o Ministério da Fazenda, Dilma ganha também liberdade para nomear o restante do ministério livre de interferências do presidente, pois aceitou a recomendação para uma área crucial. É possível que Lula também resolva guardar certo distanciamento, a menos que seja consultado pela presidente eleita, que já foi submetida a um primeiro teste: a criação do "blocão" pelo PMDB: ela chamou o vice eleito Michel Temer e disse que reconheceu o erro quando ele reclamou que o PMDB não estava na equipe de transição; por isso, ela não podia aceitar que ele tivesse deixado o PMDB criar o "blocão". Mas também disse que estava disposta a virar a página.
A equipe econômica de Dilma vai executar a política que ela determinar, e que será diferente da de Lula. "Haverá redução em ritmo mais rápido da taxa de juros, um diferencial do governo Dilma, mas não haverá ruptura, as mudanças acompanharão a mudança da conjuntura mundial, exemplificou um interlocutor da presidente eleita.
É provável que o deputado Antonio Palocci seja lotado na Presidência da República, ao lado de Dilma, mas até o momento não está claro se ele vai ficar com a Secretaria-Geral ou o Gabinete Civil, ambos com sua estrutura a ser modificada no novo governo. Palocci não gostaria de ir para o Ministério da Saúde, para onde petistas contra sua presença na Presidência gostariam que fosse. Segundo seus interlocutores, o deputado quer trabalhar na área política, o que não é possível na Saúde onde o principal problema, já identificado, seria de gestão, que exige dedicação integral.
Todo o ministério será anunciado até 15 de dezembro. A presidente eleita quer deixar tudo definido antes do Natal. O presidente do PT, José Eduardo Dutra, levou a Dilma os pleitos dos partidos, que recebeu em reuniões individuais durante toda a semana em que a presidente eleita esteve fora do país. Embora integrante da equipe de transição, mas por ser presidente do PT, sua interlocução foi vista com desconfiança pelos partidos aliados. Muitos se negaram a indicar nomes, preferindo deixar para conversar diretamente com a presidente eleita, apresentando uma indicação mais genérica sobre quais pastas gostariam de comandar.
O PT deve aumentar sua fatia na Esplanada dos Ministérios: fica com número de ministros que já tem hoje e deve assumir outros que vão ficar vagos. Por exemplo: o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, já anunciou que não vai permanecer à frente da Secom. Para seu lugar o PT poderia indicar um nome. Uma hipótese é Gilberto Carvalho, atual chefe de Gabinete do presidente Lula.
Carvalho, porém, prefere a Secretaria de Direitos Humanos, para onde levaria as atividades de conduzir as relações do governo com os movimentos sociais, hoje inadequadamente localizadas na Secretaria-Geral da Presidência. Mas ele também pode sair com a equipe de dez assessores a que Lula tem direito de levar quando deixar a Presidência - o presidente já tem inclusive a casa onde será instalada sua futura fundação. O PT acredita também que, se for realmente criado logo, o Ministério da Micro e Pequena Empresa, poderia ser destinado ao partido.
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