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quinta-feira, 30 de junho de 2011

COM ELEITORADO EM CURVA DECLINANTE NA CAPITAL, MARTA PERDE FAVORITISMO NO PT


Sérgio Lima/Folhapress – 8/6/2011

Do blog do Frave

Marta: senadora tem conversado com vereadores, militantes e até lideranças de bairro para viabilizar pré-candidatura

Fernando Taquari | VALOR
A perda de eleitores da senadora Marta Suplicy (PT) nos últimos dez anos representa hoje o principal obstáculo às suas pretensões de conquistar o apoio do PT para concorrer à Prefeitura de São Paulo nas eleições de 2012. Em dez anos, Marta passou de um patamar de 38,1% dos votos na capital, na disputa em que se elegeu prefeita, para os 26,4% do ano passado quando conquistou uma vaga no Senado. Todos os petistas bem posicionados do partido em São Paulo citam de cor esses números para justificar a resistência à pré-candidatura da ex-prefeita.

A avaliação geral, segundo um dirigente do diretório municipal do PT, é que a senadora teria feito pouco esforço nos últimos tempos para reduzir sua rejeição na cidade. Neste sentido, teria menos chances de voltar ao cargo que ocupou entre 2001 e 2004. Essa preocupação, inclusive, já teria sido manifestada a dirigentes petistas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ao encampar bandeiras como o combate à homofobia e a defesa da união estável de pessoas do mesmo sexo, Marta não só não reduz a rejeição que acumulou pelos tempos de prefeita como se afasta de setores de base religiosa, que foram conquistados pela presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2010, diz o dirigente.

A votação da senadora na capital é uma curva declinante. Ao tentar retornar à prefeitura nos anos de 2004 e 2008, a petista viu sua votação recuar para 35,8% e 32,7%, respectivamente. Além das duas derrotas municipais, Marta teve dificuldade para superar o vereador Netinho de Paula (PCdoB) na disputa pela segunda vaga do Senado em 2010. A diferença entre ambos no Estado foi de cerca de 540 mil votos.



Por outro lado, os candidatos do PT ao governo paulista registraram, entre 2002 e 2010, uma votação crescente na capital. O mesmo cenário pode ser verificado entre as eleições presidenciais de 2006 e 2010. A exceção fica por conta da reeleição de Lula. Após conquistar o apoio de 42% dos paulistanos no primeiro turno de 2002, o ex-presidente viu sua votação na cidade cair para 35,7%. Neste intervalo, no entanto, o governo federal foi afetado por denúncias de corrupção, como o mensalão, em 2005, e o caso do ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz, que foi flagrado, em 2004, negociando com bicheiros o favorecimento em concorrências em troca de propinas.

A resistência ao nome de Marta também evoluiu nos últimos anos depois que a ex-prefeita se afastou das correntes do PT que a apoiavam, chegando a romper com antigos colaboradores. Assim, a senadora teria poucas condições de disputar de forma competitiva uma prévia com o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que, por enquanto, ainda não se manifesta sobre o assunto. “Se forçar, Marta corre o risco de ficar isolada. Hoje, não há por ela na sigla a mesma paixão que existiu no passado”, afirma o dirigente. Além de Marta e Mercadante, o cargo é cobiçado pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, e pelos deputados federais Jilmar Tatto e Carlos Zarattini.

Marta, no entanto, não parece demovida da pré-candidatura que já assumiu abertamente. Tem conversado com vereadores do partido, militantes e até lideranças de bairro. Nos encontros, costuma destacar os avanços da sua gestão, sobretudo nas áreas de educação e transporte, com a criação dos Centros Educacionais Unificados (CEUs) e do bilhete único, que permitiu a integração entre ônibus, metrô e trens. Apesar do esforço, a bancada de vereadores na Câmara Municipal segue dividida sobre o assunto. Na disputa pela vaga, Marta terá ainda que garimpar apoio nas bancadas estadual e federal que gravitam em torno de nomes como Tatto e Zarattini, dois antigos colaboradores de suas campanhas, hoje afastados.

Ao classificar a senadora como a melhor prefeita de São Paulo, Tatto nega rompimento. “Foi um governo inovador em diversos aspectos. Agora, há uma rejeição ao seu nome, que em parte se deve à camada da sociedade que não quer o PT. Outros de fato não gostam dela pelas políticas afirmativas”, diz o parlamentar. Segundo Tatto, Marta já teve muitas chances nos últimos anos e por isso deveria dar oportunidade aos demais. “Além disso, está em início de mandato no Senado. Vejo que seria melhor que ficasse onde está para exercer o papel de defesa do governo”, argumenta o deputado federal, acrescentado ter o apoio de 30% do PT paulistano.

Na eventualidade de Marta vencer a eleição municipal, assume o seu lugar no Senado o primeiro suplente, Antonio Carlos Rodrigues (PR), da base governista. Sobre Mercadante, Tatto diz que o correligionário não tem “vivência de cidade” e em razão disso deveria se resguardar para disputa estadual em 2014. “Do ponto de vista político, é bom que acumule experiência no Executivo”.

Zarattini segue a mesma linha do colega de Câmara ao pregar o discurso de renovação. “Temos avaliações de que necessitamos de renovação no PT. Mercadante e Marta são nomes experimentados e já disputaram várias eleições. Mas a cidade precisa ter uma cara diferente. Não podemos repetir as propostas tradicionais”, avalia.

A pré-candidatura dos dois deputados, contudo, é encarada nos círculos internos do partido como um meio encontrado por ambos para colocar seus nomes na fila para as próximas eleições na cidade. Apesar disso, o discurso de renovação casa com o desejo do ex-presidente Lula, que em conversas de bastidor, tem defendido o nome de Haddad para sucessão do prefeito Gilberto Kassab. Apesar disso, o ministro da Educação não conta com o apoio de militantes e enfrenta a resistência de parlamentares.

O presidente do diretório municipal do PT, vereador Antonio Donato, afirma que ao buscar a renovação, a legenda trabalha com a perspectiva de avançar sobre setores emergentes da classe média, eleitorado que, tradicionalmente, vota em outras siglas no município. Haddad enfrenta resistências no PT ainda que se encaixe melhor nesse perfil que os nomes ventilados pelo partido.

Donato declarou que a escolha do candidato petista vai ocorrer até o fim de 2011, independentemente do ex-governador José Serra entrar na corrida municipal. O partido não quer repetir a situação de 2010, quando postergou até março a definição do candidato ao governo paulista. Na ocasião, a dúvida girava em torno da eventual candidatura de Ciro Gomes (PSB), que transferiu, em 2009, o seu domicílio eleitoral do Ceará para São Paulo. “A indefinição atrapalha as estratégias e a formação de alianças. Todo o processo é anterior ao início da campanha”, diz Donato, que não acredita em prévias.

A opinião é compartilhada por outras lideranças. Os defensores da candidatura da senadora, por exemplo, acreditam que Mercadante não vai querer sair do ministério para enfrentar Serra. O cálculo considera a hipótese de que se for derrotado, o ministro dificilmente volta a ter um cargo no governo federal. A derrota também seria determinante para as suas pretensões de concorrer novamente ao Palácio dos Bandeirantes em 2014. Novas denúncias sobre o escândalo dos “aloprados” ainda podem comprometer eventuais aspirações de Mercadante que, de acordo com um dirigente municipal, estaria “louco” para ser candidato. Não teria se manifestado até o momento sobre o assunto por fazer parte do Executivo.

Além disso, o ministro trabalha com a ideia de que a pré-candidatura de Marta será bombardeada até a decisão final a ponto de ela desistir da disputa pela vaga. Assim como no ano passado, quando concorreu ao governo paulista, Mercadante espera ter o caminho livre para ser aclamado pelas principais lideranças petistas. Isto é, passar a ideia de que foi para o sacrifício, embora estivesse garantido no governo Dilma Rousseff. Zarattini também não vê com bons olhos as prévias. A melhor alternativa, segundo o deputado, seria realizar debates e pesquisas para traçar o perfil do melhor candidato. Já Tatto diz não se importar com as prévias. “Estamos acostumados com isso”, afirma.

Embora não tenha definido o candidato, o PT já negocia alianças. O deputado Gabriel Chalita, recém filiado ao PMDB, é tido como o grande “sonho” para ocupar o cargo de vice na chapa. Donato, porém, reconhece que o vice-presidente da República, Michel Temer, parece determinado em fortalecer o partido no Estado ao prometer lançar candidatos em cidades grandes. Apesar disso, PT e PMDB estudam para a capital procedimentos para o primeiro turno e aliança para o segundo. “O diálogo ainda está aberto, mas nesse momento de afirmação do PMDB seria deselegante propor a eles a vice”, declara Donato.

As negociações estão mais adiantadas com o PR, que reivindica a vice e uma coligação proporcional. A legenda não apresentou um nome e cogita até a filiação de um quadro para compor a chapa com os petistas. O apoio será fundamental para as pretensões do PT, já que o PR elegeu 41 deputados federais na última eleição e terá um tempo considerável no horário eleitoral gratuito.

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