Blog do Diretório Zonal da Freguesia do Ó e Brasilândia do Partido dos Trabalhadores na Cidade de São Paulo - SP
domingo, 20 de janeiro de 2013
GOVERNO DO PSDB: PINHEIRINHO: APÓS 1 ANO, NINGUÉM AINDA TEM CASA
Área no interior onde viviam 8 mil pessoas e ocorreu uma das mais violentas ações de reintegração de posse do País hoje só tem mato, cercas e vigias
Há um ano, o Pinheirinho - terreno de 1,3 milhão de metros quadrados em São José dos Campos - foi palco de uma das maiores violnecia de reintegração de posse do País. Mais de 2 mil policiais militares retiraram da área 8 mil pessoas que viviam ali desde 2004. Não houve tempo de reação e o "exército" que havia se armado de porretes, caneleiras de PVC e capacetes de moto foi surpreendido pelo Choque. Matéria do O Estado de S.Paulo
Hoje, a área tem apenas mato, cercas e seguranças privados espalhados para evitar uma nova invasão - a calçada do lado de fora virou uma minicracolândia. O terreno foi devolvido à massa falida da empresa Selecta, do investidor Naji Nahas, como ordenou a juíza Márcia Faria Mathey Loureiro.
A manhã de 22 de janeiro de 2012 mudou a vida de 1.500 famílias. Entre elas, a do cabeleireiro Jaime Rocha do Prado, de 62 anos, ex-coordenador da capela que havia no local. Sem casa e sem emprego - ele perdeu o salão dentro Pinheirinho -, Prado dormiu com a mulher e os filhos no chão da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que recebeu parte dos desabrigados. E ainda sofre com as lembranças. "Muitas pessoas tiveram crises de ansiedade e depressão. Eu mesmo engordei 10 quilos."
Correr e cair em meio às bombas e balas de borracha, com a barriga de 6 meses de gravidez, foi só o prenúncio das dificuldades que a camareira Charlene da Silva, de 29 anos, e as duas filhas enfrentariam. "Dormia no meio de pombas mortas, gente usando droga. Quase perdi meu bebê", diz. Após passar por várias casas, ela hoje mora em dois cômodos cheios de umidade, por R$ 400 ao mês. "Minha filha recém-nascida vive doente."
Os desalojados recebem auxílio-aluguel de R$ 500 mensais, mas o valor dos imóveis dobrou de preço nos bairros próximos ao Pinheirinho. Muitos partiram para áreas de risco, vivendo em casas abandonadas no Rio Comprido. Outros optaram pela zona rural, como a diarista Ana Paula Pardo da Silva, de 35 anos.
Ela se mudou para uma chácara com os quatro filhos e o marido, Kleverton dos Santos, de 38 anos, que perdeu o emprego de carpinteiro ao descobrirem que era ex-morador do Pinheirinho. "Tem muito preconceito. Ele tinha carteira assinada e tudo."
No dia da reintegração, a faxineira Tereza Meireles, de 50 anos, seguia para a missa matinal quando cruzou com o Choque. Teve 10 minutos para juntar peças de roupa e deixar o local. Hoje, mora em uma casa paga com o auxílio-aluguel. "Durmo imaginando que isso não é meu."
A desocupação do Pinheirinho provocou uma avalanche de ações judiciais contra o Estado de São Paulo. Até a semana passada, 1.075 famílias haviam procurado a Defensoria Pública para pedir indenizações por danos morais e materiais, além de relatar casos de abuso policial durante a reintegração de posse.
A Defensoria deverá divulgar até o fim deste mês um relatório consolidado sobre as ações movidas pelos desalojados. Entre as reclamações, 570 famílias afirmaram que a Polícia Militar atirou bombas de efeito moral em suas casas, usando até mesmo helicópteros na ação.
Os dados da Defensoria mostram também que integrantes de 239 famílias foram atingidos por balas de borracha. Outras 112 famílias sofreram com violência física e 367, verbal. "Foi um sucesso militar e um fracasso para os direitos humanos", afirma o defensor público Jairo Salvador de Souza, responsável pelo acompanhamento dos casos. "Houve também a desmoralização dos pais diante dos filhos, de forma proposital, para quebrar a estrutura familiar. Policiais gritavam 'diga para eles que quem manda aqui é o Choque, não você'. Também ameaçavam matar os animais de estimação, caso não desocupassem as casas."
O relatório mostra que 3% das casas foram incendiadas e 34%, demolidas com bens dentro. "Foi um catálogo de erros - 1% da população da cidade foi removida de casa em uma manhã", diz Souza. Uma semana antes da reintegração, sinalizando uma possível resistência, moradores posaram para fotos "armados" com paus, estilingues e ferramentas, como facões e enxadas.
Humilhação. O pedreiro Antonio Chaves Gomes, o Ceará, de 32 anos, lembra da forma como foi retirado da casa onde morava havia seis anos. "Peço a Deus para que nunca mais aconteça isso comigo. Foi tudo muito rápido, na base do tiro. Uma humilhação muito grande."
Hoje, ele é vizinho do também pedreiro Aguinaldo de Jesus Santos, de 45 anos, que lembra com tristeza da ação policial. "Tinha helicóptero em cima e polícia cercando o terreno. Eles jogaram muitas bombas. Mesmo quem queria sair não conseguia."
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